terça-feira, 21 de julho de 2015

Desabafando em 3, 2, 1...

Sabe quando você se sente sozinho? Quando não importa quem esteja do seu lado, mesmo assim você se sente sozinho? Mesmo com uma multidão, milhares de milhares de pessoas te dando atenção, e ainda assim você está sozinho?

Acho meio triste e meio idiota esse sentimento, é até meio egoísta... É muita pretensão você achar que todas as pessoas querem te dar atenção, na verdade você sabe que tem que lutar por essa atenção. Mas quando você consegue essa atenção você se sente mais solitário que antes.

O que eu sinto agora é algo complexo para que outras pessoas entendam. Eu não quero a atenção delas, e quero ficar no anonimato, no canto escuro, no esquecimento. Quero me apagar e fingir que nunca cheguei de fato a existir.

Não uma suicida porque sou covarde demais para isso, mas certamente eu morreria facilmente e estupidamente, desde que não tivesse que ser eu a puxar o gatilho.

Eu sou covarde, muito covarde. Eu prefiro fugir das pessoas a encará-las. Eu prefiro fugir dos problemas, e quando eles me alcançam eu os encaro a uma distância segura, de um lugar onde posso resolvê-los sem que eles me toquem.

Eu sou medrosa, muito medrosa. Eu uso desculpas fajutas para justificar as minhas falhas porque tenho medo do julgamento das pessoas, mesmo quando digo exatamente o contrário. É... É exatamente isso, sou contraditória.

Eu sei a resposta certa para as perguntas, eu dou os conselhos certos e o melhor conforto, mas no fundo nada disso serve pra mim. Eu não faço nada do que eu digo, eu invento mentiras estúpidas para pessoas que eu não conheço e me sinto bem fazendo isso, é como se eu encorporasse um personagem, como numa peça de teatro, e acho que essa é a única coisa na qual eu sou realmente boa: atuar.

A solidão que eu sinto é diferente da que a maioria sente. eu não estou sozinha porque me deixaram sozinha, foi porque eu me deixei ficar sozinha. Eu me agarro a qualquer pequena luz, qualquer fagulha que possa me aquecer e me dedico a ela cegamente. Quando essa fagulha apaga, mesmo que a minha frente exista uma fogueira enorme, eu prefiro ficar no frio, na solidão novamente, porque é mais aconchegante ficar onde as memórias recentes estão, porque as antigas machucam muito, e ai eu fico com medo de arriscar.

Será que dá pra entender esse pensamento esquisito? Acho que nem eu mesma de fato compreendo. Eu nem me conheço, quem dera conhecer.

Eu sou do tipo que gosta de ver os outros felizes, enquanto a minha felicidade fica em décimo plano. Não ligo tanto para os meus próprios projetos, acho que é por isso que ainda não terminei nada que já comecei um dia. Nem o teatro, nem o inglês, nem a faculdade... Acho que eu sou um poço de coisas pela metade, e sou boa nisso.

Na verdade não me lembro de ter tido qualquer coisa que fosse inteiramente minha desde consigo me lembrar, além de, é claro, meus próprios sentimentos.

Existem algumas coisas hoje que me pertencem, mas eu não sinto como se o fossem realmente.

Eu não posso contar nada disso pra ninguém que eu conheça, porque todo mundo vai achar que existe uma forma de me consolar quando na verdade não existe. Eu me aceitei assim e não acho que exista uma forma de mudar isso. Ninguém pode entender o que eu sinto e pelo que estou passando, e tudo do que não preciso agora é de pessoas com pena de mim, sentindo-se obrigadas e me confortar e me animar. Odeio isso, só me faz sentir mais fraca que inútil.

Não gosto de pessoas chorando por mim, por isso prefiro fazer todo mundo rir e chorar por qualquer outra coisa. Ultimamente eu tenho desviado do foco dos meus problemas nas conversas com os poucos e mínimos amigos que eu ainda tenho e que não consegui afastar de mim.

Sempre acho que as pessoas ficariam melhor sem mim, afinal de contas a vida tem que seguir não é mesmo? Todos vão continuar com seu trabalho  e estudos, e eu serei só mais uma lembrança. Então, supostamente eu não faria falta, e minha presença não se faz necessária.

Eu me sinto mais à vontade lembrando dos mortos do que convivendo com os vivos. Não sei se é algum complexo meu, mas todos os entes que já se foram para o outro lado me deixaram lembranças muito boas, e elas superam as experiências recentes com qualquer pessoa.

Seria possível consertar a amizade que foi abalada ou danificada? Eu não sei dizer, eu estou tentando e às vezes tenho a impressão de que nunca mais vai ser como era antes. Eu odeio o fato de ter crescido, eu preferia poder ficar no colegial pra sempre, com a minha família torta mais unida, com meus amigos de escola sempre junto, todos os dias, com as tarefas simples e as poucas obrigações.

Eu não vejo mais meus amigos de escola, pelo menos não com frequencia, e só os vejo porque cruzo com eles em alguns lugares - raramente. Muitos nem fazem questão de me cumprimentar, mas na época de escola era bem diferente... Bem, as pessoas definitivamente mudam, e isso significa que eu mudei também, e me pergunto se foi pra melhor ou pra pior, mas tenho de a impressão de que é a segunda opção.

No atual momento eu sou como um lobo sem alcateia, um cão sem matilha, exatamente como uma órfã. Meus pais são separados já tem um tempo, não vejo meu pai tem meses e ele só aparece uma vez ou outra, raramente encontro ele na rua. Minha mãe está morando com a minha irmã, mas não tenho ido visitá-la, não me sinto bem lá. Na verdade não sou bem vinda lá, essa é a verdade. Pra ser mais sincera ainda, toda a minha família tem me ignorado, é como se eu servisse apenas pra enviar dinheiro quando a minha mãe pede. Eu virei um caixa eletrônico, que lindo isso né? Gostaria de ter tanto dinheiro quanto imaginam que tenho.

Então eu volto a dizer que a minha vida tem se tornado sem valor pra mim. Eu com certeza vou fazer alguma loucura ainda, mas certamente quando ninguém estiver esperando. Isso não é nada do tipo "estou confessando um suicídio", sem chance de isso acontecer, já disse que sou covarde demais pra isso, acho que é mais como um desabafo que ninguém que eu conheça vai ler, e ninguém vai me criticar e nem tentar cuidar de mim, nem dizer que vai ficar tudo bem e nem nada do tipo.

Eu acho que me cansei de ser o pilar que sustenta todo mundo. Eu quero finalmente ruir e me despedaçar sem ter que preocupar com o teto que cairá comigo. Eu quero poder cair sozinha, sem me sentir culpada por ninguém, não quero que dependam de mim, não quero que depositem expectativas em mim.

Eu só quero viver o que eu ainda não tive chance. Eu quero conseguir rir sem esconder qualquer preocupação.

Acho que eu sou um pouco invejosa também. Eu nunca fui da turma popular, nunca fui nada bonita e sempre fui a gordinha de quem todo mundo zombava. Sempre quis ser como as outras meninas que eu achava bonitas, mas eu nunca tive uma auto estima que me permitisse tentar chegar lá, sempre pensei que não conseguiria, e por isso nunca consegui.

Acho que meu maior desafio é enfrentar meus próprios fantasmas e forçá-los a me deixar, mas não consigo fazer isso, porque se meus fantasmas me abandonarem de fato então eu realmente estarei sozinha, porque é assim que eu me sinto, tê-los comigo me conforta e me dá aceitação.

Difícil é viver quando não se tem mais um foco, um objetivo, quando não se tem mais vontade. E eu vivo só porque ainda tenho que fazer essas coisas idiotas, mandar dinheiro pra ela, servir de capacho pra falarem mal, ser o ponto a ser odiado e ignorado, porque se eu não existir o que eles farão, não é mesmo? Serão corajosos os suficiente para admitirem que falam mal uns dos outros pelas costas? É mais fácil quando se ter uma pessoa em comum para odiar, e para eles eu certamente sou essa pessoa.

Então me odeiem enquanto eu ainda estou aqui, e me deixem em paz na minha solidão enquanto eu existir.